Numa avaliação do campo de trabalho da Montis, houve quem dissesse que “Penso que … fazer todo aquele trabalho a força de braços será mais uma questão simbólica”.
Compreende-se a sensação de impotência pelo que parece um resultado tão pequeno face às necessidades, e na verdade pensámos que as primeiras acções de voluntariado da Montis, na gestão do carvalhal de Vermilhas seriam meramente simbólicas.
Quando começámos, com uma mão à frente e outra atrás, sem dinheiro, sem terrenos e sem recursos, procurámos não nos deixar abater pela sensação de que nunca seríamos capazes de fazer alguma coisa com importância suficiente para a biodiversidade e a paisagem.
Para isso concentrámo-nos em captar recursos, por mínimos que fossem, e usá-los o melhor possível, nunca escondendo as limitações do que estávamos a fazer.
Contra todas as previsões, conseguimos comprar os primeiros terrenos sem depender de ninguém, a não ser dos nossos sócios e doadores, e ficámos aterrados com a perspectiva de ter de os gerir sem ter recursos, apavorados com a ideia de trair as expectativas de quem tinha confiado em nós.
As primeiras acções de voluntariado foram a solução que encontrámos para demonstrar o esforço e empenho que teríamos nessa gestão, sem esperar que na realidade tivessem grande efeito no carvalhal.
Para nossa surpresa, e contentamento, fomos verificando que as pequenas acções que íamos fazendo, de forma continuada, iam tendo resultados reais.
Hoje no carvalhal de Vermilhas é bem visível o trabalho feito e, mais importante, podemos diminuir a gestão porque o empurrão que demos à evolução do carvalhal já o faz evoluir sozinho para alguma coisa que possa ter efeito, em especial quando vier o próximo fogo. E é uma questão de tempo até que venha um fogo, isso nós sabemos.
É certo que no baldio de Carvalhais a situação é diferente, mas também por isso usámos uma técnica de gestão mais forte, queimando vinte hectares para criar outras oportunidades de gestão.
Neste terreno com mato alto, pronto a arder intensamente num Verão qualquer, fizemos um fogo de baixa intensidade, reduzimos os combustíveis finos, permitimos o acesso e começámos a concentrar alguma actividade de voluntários (o fogo controlado, naturalmente, não foi feito por voluntários).
Há menos de um ano que estamos a trabalhar esta área, estamos a planear um novo fogo numa outra área da propriedade e, aos poucos, vamos apoiando a evolução que nos interessa, isto é, a recuperação das galerias ripícolas, ao mesmo tempo que procuramos garantir o acesso a grande parte da propriedade.
Alguém dizia um destes dias que apoiava o trabalho da Montis, mas não esperava que resolvesse grande coisa dos problemas de gestão do território, porque não tinha escala para ter efeito.
Isso é seguramente verdade mas, para além do efeito real nos terrenos que gerimos, já visível no carvalhal de Vermilhas e no baldio da Granja/ Valadares (neste caso centrado no controlo de mimosas), provavelmente precisando de dois a três anos para ser visível neste baldio de Carvalhais, e de ainda mais tempo em Costa Bacelo, Vieiro e na Herdade do Freixo do Meio, há um efeito de demonstração e contágio que esperamos que vá crescendo com tempo.
O que juntou o grupo de pessoas que fundaram a Montis, muito diferentes e com muitas diferenças entre si, foi o facto de não nos resignarmos e de acharmos que era possível fazer mais e melhor para ter mais carvalhais e galerias ripícolas bem desenvolvidas no país.
É certo que continua a ser uma gota de água nos nove milhões de hectares de Portugal, mas com tempo, paciência, persistência, conhecimento e sem medo de errar (o trabalho que fizemos na segunda oficina de engenharia natural, por exemplo, foi literalmente por água abaixo, mas não é isso que nos faz desistir, o efeito que tem é sabermos que temos de fazer melhor na vez seguinte), achamos que é possível contribuir para um país com mais diversidade e mais bonito.
Ou seja, não, não é uma questão simbólica, é “apenas um episódio, um episódio breve, nesta cadeia de que sois um elo (ou não sereis) de ferro e de suor e sangue e algum sémen a caminho do mundo que vos sonho” (Jorge de Sena), e com muito mais importância e efeito do que se poderia pensar olhando para o trabalho que ainda ficou por fazer.
Razão tinha Reinaldo Ferreira: “mínimo sou, mas quando ao nada empresto a minha elementar realidade, o nada é só o resto”.
Se é por achar que não vale a pena, que é muito pouco o que pode fazer, venha daí que aos poucos a coisa vai.
E se não puder, ou não quiser fazer mais nada, faça-se sócio.
Prometemos gastar o melhor que soubermos os vinte euros da quota anual, sempre, sempre com os olhos na gestão dos terrenos marginais a que achamos que mais ninguém trará gestão e que pensamos que podem vir a ser bem mais interessantes para todos que o que são hoje.