No dia 28 ardeu uma grande área na zona de influência do projecto de Cabeço Santos, e vale a pena ler aqui a reportagem (de onde foi tirada a fotografia do post).
O projecto do Cabeço Santo é um excelente projecto de controlo de invasoras e restauro ecológico que tem a grande virtude de ser um projecto gerido por pessoas de rara persistência, que há anos trabalham sobre a mesma área, seguindo uma orientação de gestão clara e com objectivos bem definidos.
É um projecto de onde vieram pessoas dar apoio à Montis e a que a Montis deu também apoio, embora pequeno, numa linha de trabalho associada à criação de uma rede regional de voluntariado para a conservação.
Dois ou três dias depois de um fogo é pouco tempo para avaliar os seus efeitos. Pelas fotografias a intensidade de fogo parece ter sido grande, está tudo muito calcinado, mas será preciso esperar para ver o que aparece no pós fogo. Por exemplo, no Verão passado as plantações do baldio da Ameixieira pareciam destruídas pelo fogo que passou no terreno, mas verificou-se depois que o facto das caldeiras de plantação serem grandes e estarem limpas de mato, permitiu que grande parte das árvores plantadas não fossem afectadas pelo fogo e sobrevivessem.
Também alguns terrenos geridos pela Montis arderam no Verão passado, e noutro terreno fizemos um fogo controlado, o que nos permite ter hoje uma grande variedade de situações com as quais se pode aprender mais, quando avaliadas em conjunto.
O que vale a pena destacar na reportagem é este bocado: “Sabíamos que o local era vulnerável. Os eucaliptos previamente existentes tinham sido cortados e muita ramada tinha ficado espalhada pelo chão. As próprias plantas do matagal, amassadas pela queda das árvores, estavam parcialmente secas. Num momento, terá chegado a aflorar a ideia de reduzir toda essa massa combustível por meio de um fogo controlado antes da plantação, como aliás já outras vezes se tinha feito no Cabeço Santo. Mas a emergência espontânea de muitas plantas com valor para a regeneração, mais algumas, essencialmente carvalhos, que tinham conseguido escapar à queda dos eucaliptos, fez afastar essa ideia e os trabalhos avançaram sem ela”.
Quer no processo de licenciamento do fogo controlado, quer nas discussões associadas à sua realização, é frequentemente invocada a vantagem de não queimar, exactamente com base na ideia dos prejuízos para a regeneração natural e a recuperação dos sistemas.
A Montis tem argumentado sempre que a opção não é entre queimar ou não queimar, mas sim entre queimar nas condições definidas por nós, ou deixar queimar em condições meteorológicas extremas.
No fundo, o dilema que os gestores do projecto do Cabeço Santo enfrentaram neste caso concreto, que os levou à opção de não queimar. É uma opção possível e só se pode ter opinião sobre essa opção em função de dados muito concretos sobre o combustível presente e dos objectivos de gestão adoptados.
Para a Montis, e por isso estamos interessados em avaliar o conjunto de situações que vários projectos de conservação enfretaram neste último ano em relação ao fogo, o pressuposto base é o de que o fogo é uma inevitabilidade, devendo as opções de gestão contar com este factor natural, da mesma forma que se conta com a fisiografia, a água, o solo, etc..
Temos agora várias oportunidades de avaliação da evolução pós fogo.
Isso é uma base de conhecimento inestimável para definirmos as opções de gestão futura e uma das grandes vantagens de trabalhar em rede, procurando aprender com a experiência de todos, em vez de cada um aprender só com base nas suas próprias experiências.